BLOG DO VICENTE CIDADE

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segunda-feira, 25 de julho de 2011

A Vale sob ataque. Pode sobrar para o Pará (ou Carajás) !!

 Na edição desta semana da revista Isto É Dinheiro, a matéria entitulada "A Vale sob ataque" traz um panorama atual do mercado de minério de ferro no mundo.

Nela é exposto os caminhos adotados pelas principais empresas do setor que atuam no Brasil, ficando claro que as empresas estão seguindo uma estratégia diferente da assumida pela Vale, maior empresa do setor.

Enquanto todas as empresas estão focando investimentos na verticalização para trás, para aumentar a exportação de minério de ferro, que teve alta de preço em 160% nos últimos dois anos, o que a Vale vem fazendo é ampliar os investimento em verticalização para frente, ou seja, para a produção de aço e/ou produtos subsequentes da cadeia, que tiveram aumento de 30% no mesmo período.

Fica evidente que a Vale vai sofrer pressões do "mercado" para segurar esses investimentos e se concentrar na ampliação das exportações de minério de ferro. Com isso, podemos prever um "ataque" do PIG para que a Vale diminua a velocidade dos investimentos nas novas siderúrgicas, entre elas está a ALPA, em Marabá. Novamente vai entrar em pauta a disputa entre a visão de fomento à industrialização nacional, estimulada pelo governo, com a visão empresarial de maximização dos lucros, defendida pelo "mercado".

Portanto, a ALPA corre sim o risco de ficar para segundo plano. Cabe destacar que além da ALPA, a Vale também está investindo numa outra aciaria, a Pecém, no estado do Ceará, ficando aberta a possibilidade de uma "disputa" entre Pará e Ceará, caso a empresa resolva optar por "segurar" pelo menos um dos dois investimentos.

Se isso vier a acontecer de fato, na minha avaliação o Pará estará em desvantagens, posto que está imerso nessa discursão sobre a redivisão do estado, o que vai prejudicar a atuação política dos atores daqui.

Por outro lado, para aqueles que menosprezaram a força que a ex governadora Ana Júlia teve para que essa decisão fosse tomada fovoravelmente ao Pará, agora vão sentir falta da defesa intransigente que ela fazia junto ao governo federal.

A Vale sob ataque


Siderúrgicas apostam alto na mineração para melhorar os resultados e, mais do que obter a autossuficiência, querem disputar o mercado externo. Por Tatiana Bautzer

A Vale, segunda maior mineradora do mundo, está sendo atacada por rivais inusitados: seus próprios clientes, as siderúrgicas nacionais. As companhias investem cada vez mais em produção própria de minério de ferro, não apenas para suprir seu consumo, mas também para exportar o excedente ao aquecido mercado mundial. O movimento de verticalização, que começa a ameaçar o mercado da companhia liderada pelo executivo Murilo Ferreira, começou de maneira defensiva, há alguns anos, como reação à forte alta de preços de matéria-prima. “Os investimentos em mineração vieram para ficar”, afirma o presidente do Instituto de Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes. “Em todo o mundo, só serão rentáveis as siderúrgicas verticalizadas.”

Mais recentemente, cresceram os investimentos para expandir a atividade mineradora além das necessidades de produção: são mais de R$ 22 bilhões previstos para os próximos quatro anos, pelas quatro grandes siderúrgicas que operam no País: a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), a Usiminas, a Gerdau e a ArcelorMittal.

A razão para a euforia em torno do minério é a alta de preços muito superior à dos produtos siderúrgicos. A tonelada de minério disparou 160% nos últimos dois anos, com o apetite chinês pela commodity. O cenário é inverso no setor siderúrgico: o laminado subiu apenas 30,9%, com a sobreoferta mundial de aço. A World Steel Association calcula que sobrem no mundo 550 milhões de toneladas de aço. “A rentabilidade com mineração é pelo menos o triplo da siderúrgica”, afirma Wilson Brumer, presidente da Usiminas. Para Luciano Borges, consultor da Adhoc e ex-secretário de Minas e Metalurgia, a tendência é mundial. “As siderúrgicas chinesas estão liderando esse movimento para tentar contrabalançar a influência das maiores mineradoras na formação de preço.”

No Brasil, o modelo que todas parecem querer seguir é o da CSN, que sempre se abasteceu com suas próprias minas e hoje já lucra mais com a venda do minério de ferro do que com os produtos siderúrgicos.
A empresa, que faturou R$ 14 bilhões no ano passado, pretende investir nada menos que R$ 13 bilhões para expandir a exploração de minério pelas subsidiárias Casa de Pedra e Namisa, dos atuais 26 milhões para 89 milhões de toneladas anuais. Cerca de 75% do total de minério produzido já é exportado em contratos de longo prazo, principalmente para a Ásia. Outros R$ 3 bilhões serão investidos em cobre, estanho, calcário, ouro e “terras raras”, metais usados na fabricação de componentes eletroeletrônicos. “Hoje a empresa já é uma mineradora, além de siderúrgica”, afirma Carlos Rangel, diretor de programação e embarques da CSN. “Os compradores querem diversificar o fornecimento concentrado na Vale.”

A estratégia motiva a recomendação da CSN, por analistas do mercado financeiro, como investimento preferencial no setor siderúrgico. “A CSN escapa da tendência negativa para a siderurgia, com sua força em mineração”, afirma Marco Saravalli, analista da corretora Coinvalores. A diferença na rentabilidade dos dois negócios fica clara no balanço. No primeiro trimestre, a receita de siderurgia foi o dobro da de mineração: R$ 2,3 bilhões ante R$ 1,2 bilhão, mas o lucro na mineração foi maior, de R$ 792 milhões contra R$ 693 milhões, considerando o resultado antes de juros, impostos e depreciação. Lopes, do Instituto do Aço: em meio à sobreoferta mundial, a rentabilidade do setor é definida pela autossuficiência na matéria-prima

Ainda longe da autossuficiência, a Usiminas, que faturou R$ 13 bilhões no ano passado, aplicará R$ 4 bilhões para quase quadruplicar sua produção de minério, dos atuais 8 milhões de toneladas para 29 milhões de toneladas em 2015. O excedente para exportação deve chegar a 20 milhões de toneladas. Há pouco mais de uma semana, a empresa arrendou novas minas no quadrilátero ferrífero mineiro da MBL, com estoque de seis milhões de toneladas. Outro projeto é uma planta de pelotização, que exigirá investimentos de US$ 1 bilhão para produzir 7,5 milhões de toneladas. De acordo com Brumer, a Usiminas busca um parceiro estratégico para esse projeto. Embora a atividade mineradora ainda seja pequena, já no primeiro trimestre rendeu mais do que a siderurgia: R$ 138 milhões ante R$ 133 milhões.

Gerdau e ArcelorMittal têm projetos de investimento mais modestos. A Gerdau, que faturou no ano passado R$ 35 bilhões, já conta com produção própria de 75% do consumo de sua siderúrgica Açominas e espera ser autossuficiente em 2012, com sete milhões de toneladas. Poderá expandir para vender a produção excedente. Já a ArcelorMittal espera chegar a suprir 75% de suas necessidades de minério nas operações no Brasil e está investindo US$ 75 milhões numa planta de beneficiamento de minério da Mina do Andrade para produzir 1,5 milhão de toneladas anuais. Ferreira, da Vale: a perda de mercado de minério para os clientes locais justifica investimento em siderurgia

Uma das vantagens da alta lucratividade é facilitar o financiamento dos projetos de mineração. A subsidiária Mineração Usiminas, criada no ano passado, recebeu um aporte de US$ 1,9 bilhão da Sumitomo Corporation, por uma participação de 30% em seu capital. “O próprio negócio gera recursos para sua expansão”, diz Brumer, da Usiminas. A CSN, por seu turno, avaliou por um bom tempo a alternativa de abertura de capital da Casa de Pedra, mas essa perspectiva não está colocada a curto prazo. O negócio atrai o interesse não apenas de investidores estratégicos, mas também de fundos de investimentos.

No entanto, com investimentos com prazo de maturação longo, as siderúrgicas não correm o risco de ser pegas no contrapé do ciclo e enfrentar uma baixa no preço do minério? As empresas afirmam esperar que os preços se mantenham em alta por cinco a dez anos. “Não enxergo a médio prazo queda de preços de minério de ferro nem de carvão”, diz Brumer. Outros analistas são mais cuidadosos e acreditam que a alta se sustenta por dois ou três anos, quando entram em produção novos projetos que podem pressionar os preços.


A Vale, a grande produtora nacional, está sentindo o peso da concorrência no mercado interno, embora ainda seja pouco afetada nas exportações, que chegam a nada menos de 311 milhões de toneladas por ano. Recentemente, por exemplo, Ferreira revelou que a participação da mineradora no mercado interno caiu de 70% para 50%, atualmente, e sua previsão é de que fique em menos de 30% em 2014. A constatação desse problema estaria na raiz da estratégia de verticalização “para cima”, da mineradora, que prevê investimentos pesados em siderurgia para fazer frente à verticalização “para baixo” dos seus clientes locais. Entre os projetos previstos estão a participação na Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP), no Ceará, e a construção da Aços Laminados do Pará (Alpa), em Marabá.

Ao contrário do que acontece com a verticalização promovida pelas siderúrgicas, o movimento da Vale está sendo visto com algum ceticismo pelos analistas, preocupados com a baixa rentabilidade de novos investimentos siderúrgicos. O consultor Luciano Borges vê na iniciativa a influência do governo, que pressionou pela mudança no comando da Vale. “É bem clara a intenção de fomentar a política industrial”, afirma Borges. Consultada pela DINHEIRO, a Vale não comentou o assunto.

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