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domingo, 30 de setembro de 2012

Marilena Chaui: Russomanno e Serra representam o populismo e a barbárie | Maria Frô


Marilena Chaui: Russomanno e Serra representam o populismo e a barbárie | Maria Frô
setembro 30th, 2012 by mariafro

Em debate sobre conservadorismo em São Paulo, filósofa também diz que a maneira como o STF julga o ‘mensalão’ coloca em questão a República

Por: Eduardo Maretti, da Rede Brasil Atual



Para Marilena Chaui, é preciso derrotar as forças que impedem o avanço da cidadania (Foto: Ivone Perez)

São Paulo – Os candidatos Celso Russomanno (PRB) e José Serra (PSDB) representam duas vertentes da direita paulista igualmente prejudiciais à democracia, à inclusão e à cidadania, segundo definiu a filósofa Marilena Chaui em debate realizado ontem (28) à noite para discutir “A Política Conservadora na Cidade de São Paulo”. O debate ocorreu no comitê da educadora Selma Rocha, candidata a vereadora pelo PT. Russomanno e Serra são os principais adversários do petista Fernando Haddad na disputa pela prefeitura.

Segundo Chaui, Russomanno simboliza “a forma mais deletéria do populismo, porque é o populismo de extrema direita” de uma cidade “conservadora, excludente e violenta”, enquanto Serra encarnaria “um dos elementos de selvageria e barbárie do estado e da cidade de São Paulo”.

Ela define o candidato do PRB como herdeiro do populismo tradicional de São Paulo, na linhagem de Ademar de Barros e Jânio Quadros. O primeiro foi governador de 1947 a 1951 e de 1963 a 1966. O segundo, governador de 1955 a 1959 e prefeito da capital duas vezes (1953 a 1955 e 1986 a 1989), além de presidente da República por sete meses (de janeiro a agosto de 1961).

Por outro lado, diz Chaui, o candidato tucano representa o que ela chama de projeto hegemônico de PMDB e PSDB, há 30 anos dominando o estado.

“Começou com Montoro, depois Quércia, Fleury, o Covas e o Alckmin. É muito tempo. É curioso que se trata de um partido que chama o PT de totalitário. Eles estão há 30 anos no poder. Se isso é totalitarismo, totalitários são eles”, diz a professora de Filosofia Política e História da Filosofia Moderna da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.

Para ela, quem se compromete com a cidadania deve entender a gravidade do momento político: “Não podemos admitir nem a conservação no poder dos responsáveis pela barbárie, nem a retomada do processo característico também desta cidade protofascista, que é ter à sua frente figuras do populismo de extrema-direita. É nossa tarefa política, enquanto cidadãos, fazer com que cada um, ao nosso lado, compreenda isso”.

Marilena Chaui considera “uma tarefa libertária” a superação do entrave à cidadania representado pelas duas forças políticas que dominam uma “cidade na qual a violência, seja real, seja imaginada, é a forma da relação social e das relações entre as pessoas – para que a cidade se reconheça numa possibilidade nova”.

Candidatos “novos”

Na sua fala, ela disse ser preciso desfazer a confusão provocada pela ideia de que Russomanno e Fernando Haddad (PT) são os dois candidatos novos na eleição paulistana.

“Tenho insistido em mostrar que, em primeiro lugar, não se pode confundir um rosto que não está identificado ao universo da política com o novo. Mas em segundo lugar, é preciso localizar Russomanno nessa vertente antiga enraizada na cidade de São Paulo, que é a posição política conservadora, autoritária, do populismo de extrema direita”.

Para Marilena, o ex-governador Paulo Maluf, cujo partido (PP) está aliado ao PT não eleições paulistanas, não se enquadra na tradição política representada por Russomanno, mas na do “grande administrador”, que ela identifica com Prestes Maia (prefeito de São Paulo de maio de 1938 a novembro de 1945) e Faria Lima (prefeito de 1965 a 1969). “Afinal, Maluf sempre se apresentou como um engenheiro.”

Para a filósofa, as forças políticas conservadoras transformaram São Paulo em uma cidade que “opera um processo contínuo de expulsão da classe trabalhadora, das classes populares, de qualquer centro no qual o poder público tenha feito intervenção de melhorias urbanas. Se tiver asfalto, luz, água, esgoto, semáforo, você pode contar que a exclusão já está a caminho. E no lugar dela [classe popular] você tem os espigões, essa verticalização absolutamente desgovernada. Nós estamos aqui para propor a ruptura com essas tradições, com essas políticas conservadoras, com o que está sedimentado e nos sufoca, dia a dia”.

Sobre a realidade eleitoral caracterizada hoje pela fuga dos votos tradicionais do PT, das zonas leste e sul da capital, para Celso Russomanno, Marilena Chaui disse à RBA que acha “possível virar isso”. Para ela, é preciso “mostrar à periferia o Bolsa Família, o Minha Casa Minha Vida e todas as políticas sociais que não foram implantadas e que deixam a periferia ao deus-dará”. Em outras palavras, politizar a campanha de Fernando Haddad, o que “acontecerá no segundo turno”, acredita.

Julgamento do mensalão “coloca em questão a República”

No debate, Marilena Chaui falou também sobre o “mensalão”. “Não há dúvida de que ao lado de todas essas questões estruturais, históricas, há um dado de conjuntura que opera na rejeição popular (ao PT). Não na classe média, mas no nível popular, foi a grande operação em torno do ‘mensalão’ que produziu esse resultado [rejeição popular]”, acredita.

Ela criticou o imprensa na cobertura do caso. “Se a gente pega a mídia brasileira, em particular a mídia paulista, houve dois grandes crimes contra a humanidade: Auschwitz e o ‘mensalão’”, afirmou, em referência ao campo de concentração localizado no sul da Polônia que foi um dos maiores símbolos do nazismo. Para ela, o julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) na atual conjuntura foi “uma armação para coincidir com as eleições”.

De acordo com ela, se a República é constituída de três poderes, Executivo, Legislativo e Judiciário, a atuação do STF ultrapassou o limite: “o fato de que o poder Judiciário faça isso coloca em questão o que é a República. Alguém tem que erguer a voz e dizer que o Judiciário está fazendo com que a gente ponha em questão se este país é ou não uma República”.

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