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terça-feira, 9 de outubro de 2012

Dirceu: "Acato a decisão, mas não me calarei" | Brasil 24/7

Dirceu: "Acato a decisão, mas não me calarei" | Brasil 24/7

DIRCEU: "ACATO A DECISÃO, MAS NÃO
ME CALAREI"




Antes mesmo de encaminhada sua condenação pelo Supremo, por 6 votos a 2, o ex-minitro-chefe da Casa Civil José Dirceu, que já passou por coisas piores, se dizia preparado para a prisão e falava em se reinventar; mas, após a maioria consolidada, o ex-ministro escreveu em seu blog: "Continuarei a lutar até provar minha inocência. Não abandonarei a luta. Não me deixarei abater"

9 DE OUTUBRO DE 2012 ÀS 20:11

247 – Por seis votos a dois, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) já constituíram maioria para condenar o ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu por corrupção ativa na Ação Penal 470. Antes mesmo de encaminhada a condenação, Dirceu, que passou por coisas piores na época da ditadura militar, já se dizia preparado para a prisão e falava em sereinventar. Mas o ex-ministro insinuou também um movimento para politizar seu processo de condenação. E, em texto endereçado "Ao povo brasileiro" publicado nesta terça-feira após a consolidação da maioria no STF, o ex-ministro disse que vai acatar a decisão, "mas não me calarei". "Continuarei a lutar até provar minha inocência. Não abandonarei a luta. Não me deixarei abater", escreveu.

"Minha sede de justiça, que não se confunde com o ódio, a vingança, a covardia moral e a hipocrisia que meus inimigos lançaram contra mim nestes últimos anos, será minha razão de viver", finaliza o ex-ministro. No texto, Dirceu denuncia uma "ação orquestrada e dirigida pelos que se opõem ao PT e seu governo" e diz que foi "transformado em inimigo público numero 1 e, há sete anos, me acusam diariamente pela mídia, de corrupto e chefe de quadrilha".

"Fui prejulgado e linchado. Não tive, em meu benefício, a presunção de inocência", continua Dirceu, numa demonstração de que deve seguir fazendo política, como se acostumou desde a adolescência, no movimento estudantil, como fez questão de lembrar em seu artigo publicado hoje. "No dia 12 de outubro de 1968, durante a realização do XXX Congresso da UNE, em Ibiúna, fui preso, juntamente com centenas de estudantes que representavam todos os estados brasileiros naquele evento. Tomamos, naquele momento, lideranças e delegados, a decisão firme, caso a oportunidade se nos apresentasse, de não fugir".

Oposição

Um dia antes da configuração da maioria que o condena no STF, Dirceu publicou artigo para criticar o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. "Até parece que a direita, os conservadores - com a mídia à frente -, não fizeram de tudo e não pressionaram para que o julgamento se desse na data e forma como ocorre até agora para chegar até o dia da eleição", escreveu Dirceu.

"E a compra de votos para a reeleição?", questionou o ex-ministro no texto, criticando artigo escrito por FHC. "Já sobre o fato de a compra de votos para a reeleição (mudança da qual ele foi o primeiro beneficiário) não ter sido apurada, de o 'engavetador" Geral da República do tempo dele não ter aberto processo e nem feito a denúncia, e dos parlamentares que venderam o voto terem renunciado ao mandato para não serem investigados pelo Congresso etc., ele não diz uma palavra", disse.

Dirceu também mencionou a "não apuração do 'mensalão' de Minas (do deputado Eduardo Azeredo - PSDB-MG), parada há anos" e disse que FHC não fala "nem dos mais de 40 escândalos não apurados no governo dele". "Mas o que FHC queria mesmo neste seu artigo quinzenal está no final do texto: propor uma aliança PSDB-PSB em 2014", finaliza o raciocínio Dirceu, insinuando a politização de sua condenação.

Confira o artigo de José Dirceu na íntegra:

AO POVO BRASILEIRO

No dia 12 de outubro de 1968, durante a realização do XXX Congresso da UNE, em Ibiúna, fui preso, juntamente com centenas de estudantes que representavam todos os estados brasileiros naquele evento. Tomamos, naquele momento, lideranças e delegados, a decisão firme, caso a oportunidade se nos apresentasse, de não fugir.

Em 1969 fui banido do país e tive a minha nacionalidade cassada, uma ignomínia do regime de exceção que se instalara cinco anos antes.

Voltei clandestinamente ao país, enfrentando o risco de ser assassinado, para lutar pela liberdade do povo brasileiro.

Por 10 anos fui considerado, pelos que usurparam o poder legalmente constituído, um pária da sociedade, inimigo do Brasil.

Após a anistia, lutei, ao lado de tantos, pela conquista da democracia. Dediquei a minha vida ao PT e ao Brasil.

Na madrugada de dezembro de 2005, a Câmara dos Deputados cassou o mandato que o povo de São Paulo generosamente me concedeu.

A partir de então, em ação orquestrada e dirigida pelos que se opõem ao PT e seu governo, fui transformado em inimigo público numero 1 e, há sete anos, me acusam diariamente pela mídia, de corrupto e chefe de quadrilha.

Fui prejulgado e linchado. Não tive, em meu benefício, a presunção de inocência.

Hoje, a Suprema Corte do meu país, sob forte pressão da imprensa, me condena como corruptor, contrário ao que dizem os autos, que clamam por justiça e registram, para sempre, a ausência de provas e a minha inocência. O Estado de Direito Democrático e os princípios constitucionais não aceitam um juízo político e de exceção.

Lutei pela democracia e fiz dela minha razão de viver. Vou acatar a decisão, mas não me calarei. Continuarei a lutar até provar minha inocência. Não abandonarei a luta. Não me deixarei abater.

Minha sede de justiça, que não se confunde com o ódio, a vingança, a covardia moral e a hipocrisia que meus inimigos lançaram contra mim nestes últimos anos, será minha razão de viver.

Vinhedo, 09 de outubro de 2012
José Dirceu

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