BLOG DO VICENTE CIDADE

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domingo, 28 de abril de 2013

Dura realidade: RMB teve 254 mortes em quatro meses

É fácil constatar que a Região Metropolitana de Belém (RMB) tem vivido dias violentos nos últimos meses. De quatro de janeiro até o último dia 23 de abril, foram 254 execuções estampadas nas páginas do POLÍCIA do DIÁRIO. Coqueiro, Jurunas, Bengui, Águas Lindas, Icuí, Aurá, Tapanã e Val-de-Cães encabeçam o ranking dos bairros com maior número de assassinatos.

Em bairros popularmente considerados perigosos, como Terra Firme e Guamá, o DIÁRIO registrou dois assassinatos em cada. Um número pequeno perto das 25 mortes de Marituba reportadas pelo jornal. É inviável noticiar todos os homicídios que acontecem na grande Belém. Apesar de alto, o número de mortes ainda não corresponde à realidade que assusta a população.

Nas reportagens, na maioria dos casos, as execuções são apontadas como sendo motivadas por acertos de conta entre traficantes e usuários de entorpecentes. No entanto, não faltam situações de duplo-homicídios, como os ocorridos em Icoaraci, Pedreira e Benevides em janeiro, por exemplo. Do total de mortos, 11 eram Policiais Militares. Há ainda casos emblemáticos, como o dos dois jovens executados, no bairro de Val-de-Cães, durante o velório de um dos assassinos do sargento da PM Josenilson Silva Pinto.

Domingos Silva, 51, autônomo, mora na Rua da Paz, no bairro de Águas Lindas, em Ananindeua. Contrariando o nome da passagem, Domingos conta que um criminoso, há duas semanas, roubou sua bicicleta da porta da sua casa. “Onde a gente tá seguro? Não é só aqui no bairro, não é só em Ananindeua, é em toda a cidade, em todo o país. A polícia prende um bandido, aparecem mais dez. É um absurdo. Eu procuro não pensar muito nisso se não a gente perde até a vontade de viver”, desabafa.

Além de Águas Lindas, outros quatro bairros de Ananindeua encabeçam a lista das localidades com maiores números de homicídios nos primeiros meses do ano. No bairro do Coqueiro, foram 13 homicídios apurados pelas equipes do DIÁRIO. Empatado com Jurunas, o bairro foi o que apresentou o maior número de mortes. Raul Mendes, 26, comerciante, comenta que o aumento do número de condomínios fechados ao longo da Avenida Transcoqueiro está chamando atenção dos criminosos. “As pessoas tentam se proteger, mas acabam sendo assaltadas quando entram ou saem dos residenciais”, diz.

Entre os moradores, localidades como o chamado “Buraco Fundo” são reconhecidamente perigosas e diretamente influenciadas por traficantes.

CULPA DO TRÁFICO?

Aiala Colares, especialista em planejamento urbano e mestre em planejamento do desenvolvimento pela Universidade Federal do Pará (UFPA), explica que as redes ligadas ao narcotráfico criam poderes paralelos ao exercido pelo Estado. “As particularidades das favelas são importantes para o domínio territorial de grupos armados, pois a partir delas, aos poucos, outros espaços pobres e que sofrem segregação socioespacial na organização intraurbana da cidade vão sendo incorporados à integração perversa do crime”, diz. A falta de saneamento básico e infraestrutura favorece aos criminosos e dificulta ações policiais em bairros periféricos, pontua Colares. “A insegurança é algo que adoece a população e envolve toda a metrópole. Não se trata mais de uma violência periférica, ela atinge o centro da cidade e compromete o bem-estar das classes médias: Belém está sitiada pelo crime e contaminada pelo medo”, alerta.

Segundo Colares, nos últimos anos, o tráfico vem se reorganizando em áreas periféricas da Região Metropolitana, daí o aumento no número de homicídios em bairros de Ananindeua e Marituba. “Nós sabemos que não existe um histórico de investimentos efetivos na área da prevenção. Não adianta só reprimir, a violência já está enraizada, e o governo precisa trabalhar para cortar essa raiz e colocar algo melhor no lugar. Para os próximos anos, é possível pensar em um cenário melhor, mas é necessário planejamento, vontade política, e isso precisa começar desde agora”, comenta. Segundo o especialista, serviços isolados e específicos que não integrem diversas áreas são insuficientes para uma política eficiente de combate à violência.

Governo aposta em ação de inteligência

O comandante-geral da Polícia Militar do Pará, Coronel Daniel Borges Mendes, conta que o trabalho da PM não se resume às operações e rondas diárias. “Nós trabalhamos com três linhas: inteligência, integração e operação. Desenvolvemos todo um trabalho de análise criminal, fazemos levantamento de campo, colhemos informação através do disque-denúncia, temos reuniões com as comunidades e mantemos uma grande rede de informação com diversos órgãos”, explica.

Segundo o comandante-geral, em breve, novos equipamentos serão disponibilizados para guarnições. “Além da política de proteção, desenvolvemos um trabalho integrado com as políticas de defesa social para combatermos os crimes antes que eles aconteçam”, explica o Coronel Borges. Ainda este ano, deve começar a funcionar no Distrito Industrial, em Ananindeua, uma nova Unidade Integrada Pro Paz (UIPP), visando integrar políticas sociais e de segurança. Segundo o comandante-geral, o balanço trimestral de crimes da PM, que avalia qualitativamente as ocorrências, ainda não está pronto. “Os números continuam altos, isso nós temos que admitir, mas eles estão caindo nos últimos anos, sim”, garante.

O delegado-geral da Polícia Civil, Rilmar Firmino de Souza, cita o “Mapa da Violência 2012, produzido pelo Instituto Sangari em parceria com o Ministério da Justiça, para comparar com os dados atuais de homicídios. O estudo mostrou que o número de mortes na Região Metropolitana cresceu 324,4% em dez anos. Em 2010, último ano avaliado pela pesquisa, a taxa era de 80 homicídios para cada 100 mil habitantes, colocando a RMB em segundo lugar no ranking das capitais mais perigosas do país. Foram 1.639 assassinatos apenas naquele ano. “Se você multiplicar o número de homicídios nestes quatro primeiros meses por três, vai ver que o total é significativamente inferior ao registrado em 2010. Evidente que o número ainda é alto, mas o trabalho para reduzir estes índices é contínuo”, afirma.

Para combater a violência em áreas do entorno à RMB, a Polícia Civil criou as Delegacias de Homicídio (DH) e de Repressão a Entorpecentes (DRE), na Superintendência da Polícia Civil da Região Metropolitana, em Ananindeua, no final de 2012.. “Este mês tem sido emblemático para a Polícia Civil no combate ao tráfico. Nesta última apreensão de mais de 56 quilos de pedra de óxi feita em Santarém, prevenimos que cerca de meia tonelada de cocaína chegasse às ruas. Estamos conseguindo desarticular quadrilhas e prender traficantes importantes. É claro que o resultado disso não pode ser sentido de forma imediata”, completa o delegado-geral.

(Diário do Pará)

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